
Hansel and Gretel (2010)
Como um desporto ou exercício, como a meditação ou a corrida, a arte é, para mim, sobretudo experiência e ação.
O intuito é levar-me para mais perto de casa. Levar-me para um espaço, interno e exterior, onde eu tem lugar.
Isso passa pelo ato de (re)colher, de trazer algo do exterior para dentro; para o tornar meu. É uma forma de transformar o que me é alienígena num processo que se assemelha ao próprio sistema respiratório ou ao sistema digestivo — ingestão, digestão, absorção e eliminação.
O resultado é uma sensação (temporária) de conexão.
Interessa-me a leitura e a releitura das imagens e dos seus textos. Virar do avesso e de pernas para o ar as frases feitas e os conceitos pré-concebidos. Procuro o amorfismo das formas. Os seus não-ditos.
Procuro (com algum outro sentido) aquilo que não se vê mas que é intrínseco à matéria e às imagens do quotidiano.
“É preciso sonhar muito diante de um objeto para que este determine em nós uma espécie de órgão onírico. […] Não estamos disponíveis para sonhar o que quer que seja. Nossos devaneios de objetos, se profundos, fazem-se na concordância entre os nossos órgãos oníricos e o nosso coisário.”
— Bachelard, Gaston. A Poética do Devaneio, 1996. Martins Fontes