“Out of the (Prussian) Blue — Revelações em Tempo Real”
dispositivo ou máquina fotográfica feito de manchas de klecksografia em cianotipia.
gnōthi seauton – “Know thyself”
(máxima filosófica da Grécia antiga inscrita no Templo de Apolo em Delfos)
Out of the (Prussian) Blue é um pequeno dispositivo (máquina/livro) que leva um papel (rolo) amovível composto por uma série de manchas fotossensíveis.
O utilizador escolhe a mancha que quiser, coloca-se num local onde o papel apanhe sol e observa a superfície fotossensível a mudar de cor lentamente de maneira não uniforme.
A dimensão do objeto permite o fácil transporte no bolso (como um maço de tabaco), para quando se precisar de uma pausa, consumir uma mancha ou outra durante uns minutos.
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Out of the (Prussian) Blue é um convite a parar e a observar, a imaginar (ou criar imagem). O dispositivo propõe um espaço de atenção à mudança subtil. Um espaço de introspeção ou só de daydreaming.
Se desejar, o utilizador pode descrever o que a imagem lhe traz à cabeça, pode dar-lhe um título, ou criar um texto ou desenho a partir dela. Pode também não fazer nada disso e apenas desfrutar do espetáculo das transformações: a transformação cromática entre a cianotipia não exposta e depois da exposição; e a sequência de imagens e significados que lhe (o)correm no espírito durante o processo.
Utilizada corretamente, esta máquina expõe uma sequência de imagens inesperadas, orgânicas e efémeras que têm origem entre as formas abstratas do Azul da Prússia da cianotipia e as formas por identificar que emergem da psique do observador.
A matéria fotossensível vai, simultaneamente, reagir à energia dos raios ultravioletas e à energia criativa e pré-consciente do utilizador durante o tempo da exposição. Fazendo deste, simultaneamente, um dispositivo de projeção e de revelação em tempo real.
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A Out of the (Prussian) Blue surge da necessidade de consertar a nossa relação com tempo. Não só o tempo da matéria em metamorfose, mas sobretudo o tempo interior. O criador/observador é sujeito e objeto da experiência. É o seu tempo que está a ser exposto.
Como o ato de fumar um cigarro, um movimento de inalação (com os olhos) e exalação (com a mente). O ato criativo transformador, cuja base é o tempo de ‘reparar’, no sentido de parar duas vezes; de ‘reparar’ no sentido de notar; de ‘reparar’ no sentido de consertar (ou dar um novo sentido).**
(A palavra “Cianotipia” deriva do grego, kyanos “kyanεύs” que significa “azul escuro” (ou talvez só escuro) e “typos” que significa marca ou impressão.)
** O pensamento em torno deste objeto inspirou-se do método e conceitos derivados da Composição em Tempo Real (CTR) de João Fiadeiro.













